sábado, 14 de junho de 2008

A vaia em “Sabiá” e a torcida por Vandré – O exílio e o protesto

Por Camila Seta, Suellen Campos e Renata Brazil (Editoria de Música)

O tempo que se vivia em 1968 era m tempo de paixões. Pela política, contra a ditadura, pela arte. Os festivais de música acabavam se transformando em cenário de torcidas apaixonadas. Assim foi com o Festival Internacional da Canção (FIC), realizado anualmente de 1966 a 1972, no Maracanãzinho, no Rio. Era dividido em duas fases, nacional e internacional. A canção classificada em primeiro lugar na fase nacional representava o Brasil na fase internacional, disputando com representantes de outros países o prêmio Galo de Ouro, desenhado por Ziraldo. No FIC, Hilton Gomes, apresentador oficial, imortalizou a frase “Boa sorte, maestro!” e Erlon Chaves compôs o “Hino de FIC”, tema de abertura do festival.

No III FIC, que aconteceu em setembro e outubro de 1968, duas canções disputavam o prêmio nacional: “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, e “Pra não dizer que não falei de flores” (“Caminhando”), de Geraldo Vandré. Com uma letra explosiva em pleno regime militar, que incitava o povo a reagir e não esperar “acontecer” (“Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer”), Geraldo Vandré, sozinho no palco e de violão em punho, arrebatou um Maracanãzinho ávido por se pronunciar contra a ditadura e a falta de liberdade. “Sabiá”, mais lírica e menos impactante, interpretada por Cynara e Cybele, era uma música que falava do exílio a que muitos artistas e intelectuais estavam sendo (e iriam ser num futuro próximo) submetidos, e foi recebida como uma canção de amor. Também caiu no gosto do público, que se dividiu entre as duas, com torcidas. Mas quando o resultado final foi apresentado, uma boa parte vaiou a bela e sofisticada composição de Chico e Tom, achando que a música de Vandré só não ganhara porque criticava abertamente a ditadura militar. Chico e Tom tiveram de agüentar a chuva de vaias e Vandré saiu consagrado do Maracanãzinho, apesar do segundo lugar.

Apenas duas canções brasileiras foram contempladas com o Galo de Ouro: “Sabiá”, vencedora em 1968, e “Cantiga por Luciana”, de Edmundo Souto e Pulinho Tapajós, interpretada por Evinha e vencedora em 1969 do IV FIC.

Vencedoras do III Festival Internacional da Canção – 1968

“Sabiá” (Tom Jobim e Chico Buarque, com Cynara e Cybele).

“Pra não dizer que não falei de flores (“Caminhando”) – (Geraldo Vandré, com Geraldo Vandré).

“Andança” (Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tajós, com Beth Carvalho e Golden Boys).

“Passaralha” (Edino Krieger, com o Grupo 004).

“Dia de vitória” (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, com Marcos Valle).

Nenhum comentário: